terça-feira, 12 de maio de 2009

sem palavras

Estou sem palavras.Ainda ontem eu pensava que só eu estava assim,meio que não estando sabe?Não no sentido de estar perdida,mas não estar disposta a estar,star,estrelas cadentes numa noite estranha,feliz e triste,uma noite que é clara como o dia.De repente decido escrever porque as palavras borbulham dentro de mim.Estou como um dicionário fora de ordem,cheia de palavras estranhas com centenas de significados abstratos...Levanto e ando atrás de alguma coisa esquecida no meu quarto de vidro,qualquer coisa que valha a pena...acabo que volto e sento sem nada nas mãos.Mas lá estava meu quarto de vidro completamente transparente,translúcido,translocando toda minha privacidade...afinal de contas eu tenho me esforçado para ser do jeito que o formato pede.Quem precisa de privacidade nessa vida??
Eu nunca me imaginaria tão travada,as palavras não saem conforme eu esperava,palavras doces deveriam se combinar num poema suave e abstrato.Mas não vejo nada de doçura em escrever sobre uma coisa que não sei falar.Não sei.Como posso traduzir não poder fechar a porra da porta quando eu quero,não conseguir dormir naquele breu total e só acordar no meio da manhã,tranquila e saisfeita por um sono suave e macio.Mas não.Porque ninguém se imagina num quarto de vidro,os pedreiros satisfeitos por me verem todo santo dia pelada,eu estou feliz assim,pra mim sempre está tudo bem.Porque sempre está tudo bem?Não está;estava;esteve;estivemos;mas até me mostraram por a + b que tudo o que passei nem sequer existiu.Pagaram aquela maldita análise.Como nada existiu?Tamanho bote eu peguei da analista...nunca mais voltei...
As vezes eu tenho certeza absoluta que ninguém sequer imagina o quanto quebrada,estilhaçada,partida ao meio,vazia eu fiquei...Então eu grito num silêncio mudo.Cadê aquele apartamento que era só meu,onde eu podia chorar sem ninguém ver..podia sorrir,dormir,lá eu podia qualquer coisa.Um belo dia eu resolvi mudar;e fui desmontando meu sonho,guardando em caixas de papelão todo aquele sonho que eu criei,que eu pintei,fui durante semanas desmontando aquele lugarzinho que era só meu.Era meu.Não ,eu vivi ali.Isto era concreto demais .Não.Não está tudo bem.Porque quando eu pus meus sonhos em caixas,existia a reconstrução de outro sonho..um sonho que era real.
Eu nunca entendi o que aconteceu,de repente eu estava num quarto de vidro,o sonho desfeito,as caixas espalhadas pela casa traduziam exatamente eu,espalhada no chão da cozinha chorando e me procurando,procurando alguma coisa,qualquer coisa que me mostrasse onde exatamente eu tinha perdido minha alma,minha casa,meu ego..eu espalhada pela casa como uma caixa perdida;Eu fiquei perdida durante meses.E eu aposto que ninguém sequer imaginou a dor,a confusão que eu tentava desfazer.Sem palavras.

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